July 06, 2011

Calendário





Longe vai a altura em que os dias (se) contavam. Quando deixamos que o tempo passe por nós e vá levando tudo aquilo que não queremos guardar, deixamos de nos preocupar com ele. Não sabemos quanto tempo passou... nem quanto falta passar.
Ficamos inertes, só à espera que ele passe, que vá passando. Que arraste tudo o que quiser, mesmo sabendo que corremos o risco de ficar vazios. Ou que podemos ser por ele levados, inteiros ou em pedaços, pouco importa.

Um dia, sem sabermos porquê, e sem sequer pedirmos, o sol entra-nos pela janela. Levantamo-nos, escolhemos um vestido quase novo, enchemos o peito de ar (e de tudo o que com ele vier à mistura) e saímos. Sem medo, porque os bichos papões e os fantasmas são apenas um produto da nossa imaginação. Porque o vazio que temos em nós, afinal, não é mais do que espaço por preencher. Porque, lá ao fundo, já se ouve o eco de um bater ritmado. Porque se adivinham melodias, chocolates e gelados, maresia, pores-do-sol coloridos e todas essas coisas que aquecem os sentidos (e a alma por arrasto). Porque os dias são maiores, e as noites insistem em ir passando devagar. Não sabemos quanto tempo passou sem que déssemos por isso; não imaginamos quantas estações passaram por nós; Nem interessa...

É Verão. E é daqui que partimos.  Em sintonia com o tempo, sem deixar que ele passe em vão, e guardando em nós tudo o que ele trouxer. Tal qual a praia com as marés.

"Vai tudo correr bem", disseste-me num sussurro. Eu sorri e descansei a cabeça contra o teu peito e a minha mão contra a tua. Não. Não vai correr tudo bem. E ambos sabemos isso. Toda a gente sabe. Mas o pior já passou. E é muito bom adormecer com essa certeza.

1 comment:

Miss Jones said...

Para mim, o melhor até hoje. Não há nada que me emocione mais do que a verdade dura de um recomeço. Se quiseres ajuda a preencher o tempo, o espaço, a alma, o que for, sabes onde me encontrar. Nem que seja com umas iscas ;)