September 30, 2009

Fénix




Cabeça e coração em guerra aberta e declarada. A alma fica parada, à espera que passe. Na esperança que passe. Na esperança que a cabeça um dia acredite que nem tudo tem uma explicação, ou que o coração aprenda que há males que vêm por bem. Um deles tem de ceder.

Enquanto isso, tudo o resto morre devagar... Porque alguém disse, um dia, numa melodia banal mas com palavras cheias de sentido: "é preciso morrer e nascer de novo, semear do pó e voltar a colher".

June 06, 2009

Viajantes






É aqui a nossa casa. Não a contruímos, nem nada fazemos para a manter. Mas é aqui que, sem sabermos bem porquê, de forma inevitável, tudo parece fazer sentido.

Enquanto o chá arrefece, vamos partilhando de forma mais ou menos clara as aventuras e desventuras das viagens de cada um. O cansaço dá lugar a uma calmaria que só aqui encontramos. As nossas mãos adormecem juntas, e acordamos a partilhar um sorriso.
E partimos. Sem certezas, mas também sem grandes dúvidas. Todos os viajantes precisam de um porto seguro a que chamam "casa".

"Nunca senti bater o meu coraçãoh
Como senti ao sentir a tua mão
Na tua boca, o tempo voltou atrás
E se foi louca essa loucura,
Essa loucura foi paz."



May 30, 2009

Sonho de uma noite de Verão




Pela janela entreaberta chega-nos uma brisa morna com cheiro a Verão e maresia. Timidamente, partilhamos um sorriso cúmplice.

Com um fascínio quase infantil, sigo o movimento das tuas mãos, hoje sobre as cordas, e deixo-me levar. Depois, fecho os olhos, e permito-me que me cantes, em jeito de sussuro, ao ouvido. Sabe bem.

"When 'r' you gonna realize, it was just that the time was wrong, Juliet? "

[Há coisas que não se explicam. Tomara que o Universo faça o seu papel e que este conto tenha, no tempo certo, um não-final feliz]

April 30, 2009

Desejo II





Fechei os olhos com a mesma convicção com que cerrei os punhos.

Fiquei assim uns instantes e, num momento de puro egoísmo, desejei com todas as minhas forças que o Mundo acabasse amanhã.

April 06, 2009

Desejo


"Fecha os olhos e pede um desejo", disse-me ele, enternecido.
"Eu não preciso de nada", disse eu. Ele sorriu.


Eu fechei os olhos e, em segredo, desejei conseguir adormecer em Paz quando a noite chegar. E acordar num qualquer dia seguinte, com um bocadinho menos deste peso que carrego em mim e que não sei descrever.

Há quem lhe chame saudade... Eu já não sei que nome lhe dar.




March 03, 2009

"Mar adentro"



Foto: Marek Askiel

Com o passar do tempo, o meu barquinho foi crescendo. Tu ensinaste-me a escolher as melhores madeiras, com o mesmo entusiasmo que hoje me ajudas a içar as velas. As amarras, essas, desfaço-as sozinha. Com a alma bem apertada, mas a cabeça altiva de quem não tem dúvidas que escolheu o melhor rumo, na melhor altura possível (e há muito deixou de acreditar que há um tempo certo para tudo).

Vou deixar-me ir, tendo o horizonte como destino. Não pela vontade de me dar ao mar, mas pela necessidade de te deixar no cais. Porque tudo fica em Paz quando finalmente aprendemos (e compreendemos) que nem todos são felizes a navegar. Uns constroem um barco (uma caravela, uma casquinha de noz) e encontram a felicidade na viagem que fazem à sua procura. Outros são felizes no cais, à sua maneira, a ver as gaivotas planar por entre as nuvens, e apenas com a certeza de que o Sol, amanhã, como ontem, voltará a nascer.